Personagem da Semana - Uma gigante da emergência

Foi entrevistando Maria dos Anjos que conheci a Léia, ou melhor, me apresentaram a ela. Foi através de uma janela, que fica separando essas duas figuras, que me chamaram e pediram “a Léia está aqui faz tempo, faz o personagem da semana com ela”. No entanto a Léia relutou, disse que tinha vergonha, mas como a voz do povo é quem manda, ela acabou cedendo.



Léia Maria Guimarães, 53, formada em pedagogia e, atualmente, técnica de enfermagem, não é o que aparenta ser. Para mim, Léia parecia tímida, pequeninha e contida. Eu não podia estar mais errada. Sempre acreditei na expressão tamanho não é documento e para quem ainda não acredita, precisa conhecer a técnica de enfermagem que trabalha na sala de emergência, do Pronto Atendimento do Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM). 

Caos, pressão e vida ou morte. É esse o cenário que a técnica enfrenta, todo dia, quando chega para trabalhar no HUM, há 24 anos e oito meses (não falei? Tamanho não é documento). Lá em 1994, a Léia prestou concurso para o HUM para auxiliar de enfermagem. “Gostei muito do serviço público”, antes ela trabalhava em uma instituição privada, “o ambiente de trabalho é melhor, tem mais vantagens e o pessoal é bem bacana, também”, completa a técnica.

“Quando entrei, fiquei seis meses no Ambulatório de Especialidades, depois, fui para o Pronto Atendimento, que é bem estressante. Cada dia é um dia e, quando ele acaba, no dia seguinte começa tudo de novo. Mesmo assim, você não se acostuma. Não existem dois casos iguais”, explica Léia. O ambiente de trabalho é composto por várias macas, muitas cortinas azuis e jalecos brancos. A demanda é grande. A sala de emergência é sempre lotada. Há dificuldades. Mas Léia, ao contrário do que você possa estar imaginando, vê magia nesse lugar. 

Para não enlouquecer, a técnica me conta que se preocupa com um dia de cada vez e deixa todo esse cenário aqui, dentro do hospital. “Chego no estacionamento e me desligo, não dá para levar esses problemas para casa”, explica, “se durante o dia a dia no hospital há momentos de muito estresse, eu saio um pouco, vou dar uma volta, respirar fundo e, depois, eu volto. Mas, para mim, o importante é gostar do que se faz e eu amo, amo tanto que continuo no Pronto Socorro, depois de 24 anos”, conclui Léia.

Lembrando da época de 1994 (eu, nem era nascida) a técnica me conta que era bem difícil, “tínhamos que sair todos os dias para fazer tomografia. Então, em relação aos exames, nosso potencial aumentou bastante, assim como a demanda. Claro que com essa nova realidade vieram novos problemas, mas nós conseguimos lidar com eles, um por um, de cada vez”.

O Pronto Socorro é há 24 anos, o ambiente de trabalho da Léia

“Outra melhora foi em relação ao fluxo dos pacientes,  todo dia chegam cerca de 4 novos casos, só na parte da manhã. Antes esses pacientes ficavam parados e isso não fluia. Agora, nós enviamos para as UTIs, enfermarias e o sistema transita”, explica Léia. Entre uma história e outra, ela respira fundo e fala dos casos difíceis, aquelas situações que é complicado não se envolver, mas lembra que é preciso separar o sentimento para não prejudicar o trabalho. “Os amigos verdadeiros, que eu fiz aqui no hospital, ajudam muito. Nós brincamos para descontrair, sempre tentamos rir. Nós nos ajudamos. Nós nos mantemos sãos”.

Léia me conta que aprendeu muito no Pronto Atendimento, já que, na emergência é diferente: “o paciente chega de fora e é preciso prestar o cuidado desde o básico. Não pegamos ele já pronto, como na UTI em que ele ele já está sendo tratado”. Mas faltando um ano para se aposentar, ela diz: “já deu. É hora de deixar com os mais jovens”.

Perguntei como ela se sentia em ser lembrada e, meio sem jeito, mas com muito orgulho, Léia explica que não faz o trabalho mirando esse reconhecimento. É extremamente grata pelo acolhimento do pessoal e irá sentir muita falta disso tudo, quando não estiver mais trabalhando aqui.

Essa gigante de espírito e de coragem, com 34 anos de enfermagem, e na frente de uma emergência de um pronto atendimento, imerso no caos, ensina muito mais do que só conteúdos relacionados a enfermagem, mas também dá lições para a vida toda.

Comentários

  1. Que matéria linda e valiosa por mostrar um pouco do trabalho e dedicação de todos funcionários do PS. E em especial este serumaninho lindo que é a nossa querida Léia! Q honra ter trabalhado mesmo que por um tempinho c vc. Valeu muito pelo aprendizado e amizade que será eterna!

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